À medida que se foram separando, comecei a marcar o período de vida útil de uma banda em dez anos, certinhos. Clash, Pixies, Blur, Pavement para começar com o que ainda continuo a ouvir todos os dias, e também as que não terminam, como dEUS (estes ainda foi mais curto) ou Radiohead, que sendo incapazes de fazer uma coisa má, não me devem voltar a impressionar como no período Bends - Hail to the Thief. Dez anos deve ser o período máximo em que quatro ou cinco pessoas conseguem estar de acordo sobre um assunto. Claro que um Beck ou um Bowie se aguentam mais tempo, mas também mudam as pessoas à volta. Até as bandas do Miles Davis duravam dez anos, ao fim dos quais despedia toda a gente e contratava novos. Eu já pensei muito nisto, é como a questão da faixa dois e cinco serem sempre melhores que as outras nos álbuns, escusam de vir apresentar argumentos.
Os Sonic Youth não mandam isto tudo por água abaixo porque são uma família daquelas muito funcionais em vez de uma banda. São aparentemente felizes lá uns com os outros, recebem bem os amigos (Malkmus, Cobain, J Mascis, etc.), nunca diminuiram pessoas quando faziam versões que podiam puxar um sorriso maldoso (Madonna e Robert Palmer), dá ideia que são, enfim, boas pessoas. Nada disto produz bons discos, mas ajudou de certeza a passar a regra dos dez anos. E duas vezes, quase três.
Há várias proezas nos SY, mas a que me tem impressionado nos últimos anos, é a aceitação e o consenso, ainda mais que nos tempos do Dirty, tudo sem um único golpe de rins. Está aqui a mesma banda e estilo que se ouvia em Evol e Sister. É até um bocado injusto que se diga que os SY são agora uma banda de canções, não só porque sempre lhes ouvi canções, mesmo com vários intervalos a la Sonic Death, como se parece querer sugerir que o experimentalismo (a única circunstância em que não tenho vergonha de dizer experimentalismo é a falar de SY) já está lá para trás. Há ali num artigo para o qual eu já forneço o link, uma frase de um Malkmus preocupado com mudanças nos SY nos noventas, e não é o experimentalismo que o atormenta: Malkmus (...) was driving us somewhere. We were playing it in his rental car, and he said, ‘I hope you guys don’t leave the power of the song behind.’ He liked Sonic Youth as a songwriting band—he had a sort of charming concern about it.
Só estou a ouvir o Eternal há dois dias e estou muito bem disposto com tudo. Este disco deve dar grandes concertos de rock, agora parece que há vozes a harmonizar (vejam só...), há baixista novo (novo em discos). Se a cada disco novo de SY uma pessoa disser que é o disco do ano, vai ter sempre uma boa probabilidade de estar certo.
Entretanto está aqui o tal coiso.
.