"Je suis rentré au pays depuis quatre-vingt putain."
Victor Démé (minuto 1:54)
Este já será o 7º ano que vou a Sines. Ao Festival. Sem falta. Posso ir mais ou menos dias (dois, no mínimo). Mas não falto.
Desta feita e pela primeira vez, fiz uma perninha a Porto Covo. Em jeito de antecipação. Foi uma bela noite de sábado. Antes da ligeira desilusão de ver os Ukranians ao vivo (a principal razão que me levou lá), seguidos do sempre cool mas algo enjoativo afrobeat do senhor Dele Sosimi, a grande descoberta da noite foi mesmo este moço tão desdentado quanto inspirador do Burkina Faso.
Victor Démé está em palco como se estivesse a tocar guitarra no seu quintal. Sozinho (minuto 10:40). Ou bem acompanhado pelos seus vizinhos. Na moleza da tarde africana. Todos à sombra de uma grande mangueira. Ou papaieira. E pela sua voz griot passam embondeiros.
Por acaso, não os vemos passar no início deste belo video. Mas eles estão lá. Nas paisagens que escutámos. Sábado à noite.
Em toda a minha vida nunca tive uma insónia. Nos momentos mais negros e angustiantes da minha existência demorei cerca de um minuto e quarenta a adormecer profundamente para só voltar à negritude e angústia na manhã seguinte. Não há nenhum truque, nem super-poder aqui escondido que possa partilhar, mas ser tão preguiçoso ajuda, da mesma forma que deve ser por ser um alarve que nunca deixei de ter vontade de comer por estar doente.
Aconteceu-me agora que me deparei com um clássico dos últimos anos e acordei com um torcicolo, ou o que seja isto no pescoço, e que consegue levar dores agonizantes até ao braço e à ponta dos dedos, em permanência e independentemente da posição. Não vale a pena aborrecer ninguém com isto, mas é uma situação muito complexa e que não me permite cozinhar, conduzir, ou, cá está, dormir. Portanto, pela primeira vez na minha vida não consigo dormir. Estou cheio de sono, mas dormir está quieto, por causa das dores no braço, claro.
Descobri ao segundo dia que só havia uma posição menos desconfortável que as outras. Isto vai parecer uma piada, pronto, mas a única boa posição é sentado de frente para a televisão (é o unico sítio com sofá) e de braços cruzados. Não posso estar a ler ou a fazer seja o que for. Sentado, de frente para a televisão, de braços cruzados. Posto isto, e como também não consigo dormir, resolvi ver o Wire todo outra vez e já acabei a primeira temporada menos um episódio. Ando fundamentalmente à procura de erros no guião, nas personagens, situações de encher chouriços no geral. Não se consegue encontrar nada. Quando acabei as cinco temporadas da primeira vez, fiquei convencido, e ainda estou, que a quarta era a melhor da série, mas acontece que esta primeira é a mais flawless (perdão) de todas elas. Vou só ver o útlimo episódio esta noite e estarei em condições de explicar tudo.
O meu amigo Sérgio, rapaz talentoso para estas coisas de blogs e outras coisas melhores ainda, tratou (no sentido de fazer um tratado) no outro dia da questão da ressaca com inigualável mestria. Argumentou ele, com toda a razão, de que o maior consolo da ressca é termos a certeza de que ela vai passar. Pois com a insónia acontece coisa parecida, mas um pouco mais cruel: sabemos que iremos ter sono, mas temos a certeza de que será tarde demais para um acordar descansado. Descrente de contar ovelhas e respectivos pastores sodomitas, deu-me para meditar, coisa tão parva como inútil.
E que melhor como soporífero do que a política doméstica, pensei eu. O tom aqui é leviano e boçal, mas o cidadão eleitor que vos escreve concluiu, tarde demais dirão vozes mais avisadas, que não há, absolutamente, nenhum partido em quem votar nas próximas legislativas. Excluídos, por insanável conflito biliar, o CDS que afinal é PP, mas que há de continuar CDS nos boletins, e essa amálgama de carreiristas empedernidos do PSD, que pelos vistos ainda é PPD, liderados por uma senhora que ganha votos na exacta proporção em que permance calada, resta-me a "esquerda", onde eu costumava dizer que me integrava. Pois o PS e mais o seu líder messiânico conseguiram fazer tanta merda em tão pouco tempo que tornam impossível qualquer voto naquela rapaziada que ainda considera que governar ao sabor do vento e ignorar ostensivamente qualquer sinal de descontentamento são argumentos suficientes para se ganhar eleições. Quanto ao PCP, meus caros, cheguei ao fim da linha. Não posso votar num partido que, cada vez que se pronuncia sobre o que se passa no mundo, faz tremer qualquer cidadão que leia mais do que o horóscopo publicado nos jornais. E depois vem a malta moderna do BE, que no fundo é gente tão ou mais demagoga que os do CDS. Basta-lhes defender precisamente o contrário destes com a mesma insana ferocidade. O Dr. Francisco acredita mesmo que o país se salva conduzindo à forca todo e qualquer banqueiro ou empresário e que havemos nós de fazer perante tão construtivo pensamento...
Portanto, resumindo o que não tem resumo, se depender de mim e do voto nulo que vou preparando, este país mergulhará na anarquia. Movido por esta ideia peregrina, fui à pesquisa de imagens do google inserir o termo "anarchy". O primeiro resultado é o que ilustra esta posta. Não é brilhante pois não? E o sono, nem vê-lo.
Desde isto que o número de pessoas que cá vêm parar pesquisando no google por "campo grande camionetas" ou "autocarros campo grande" não pára de aumentar. E é pensando no bem estar de toda essa gente - mas beneficiando apenas uma pequena parcela - que publicamos este post.
Aqueles de entre vós que sois das Galinheiras, não ide mais longe. Tende calma, minha gente! Não carregueis apressadamente no BACK com ar enfadado pelos conteúdos espúrios de mais um blogue. Está aqui mesmo o que procurais.
O Pitau-raia deseja-vos uma boa viagem!
Já ao outro cidadão que nos pesquisou por "sistema caseiro de secagem de cannabis", lamentamos não poder auxiliar. Mas ficam também os nossos votos de excelentes viagens. Rumo às Galinheiras da sua imaginação.
Interlocutor não identificado: olha esta cena
mãe e filho
estão a conversar à minha frente
filho "não vamos conseguir chegar a horas"
mae "vamos"
o filho abre a mala e saca um papel onde diz "Talão de compromisso"
13:57 eu: ...
Interlocutor não identificado: onde preenche os campos e assina e faz a mãe assinar
concluindo
eu: LOL
Interlocutor não identificado: se a mãe n cumprir tem de pagr uma coima
13:58 eu: ehehehehe
Interlocutor não identificado: ela diz que ele utiliza este metodo para tudo!
eu: vou fazer um post com isto
e qt é a coima?
Interlocutor não identificado: depende do compromisso
e ele diz-me
13:59 "não sabe como sao os adultos?"
eu: q idade tem o puto?
Interlocutor não identificado: prometem e nunca cumprem
assim tá assinado
14 anos
eu: dentro de 5 min isto tá no pitau
14:00 comprometo-me
onde é q assino o talão?
Esta foi mesmo à tuga.
Na capa, a direcção capitaliza descaradamente sobre a Gripe A com um grafismo ao melhor estilo de folheto de instruções de segurança aérea e a bela da etiqueta "EDIÇÃO PARA GUARDAR (e usar em caso de emergência)". Na última página, o RAP ridiculariza frontalmente a cobertura dos media sobre a gripe dos porcos (e das aves e ainda a outra das vacas), avança com a fábula d' "O jornalista e a pandemia" e sentencia que "felizmente, até agora, a bicharada tem evidenciado menos talento para dizimar do que para vender jornais."
BH: It's true. I think the last song standing will probably be "Happy Birthday."
TW: I'm sure it will be. It's terrible, but I guess songs are just interesting things to do with the air.
Uma certa menina alertou-me para esta conversa entre Beck Hansen e Tom Waits. Porque há muito mais nesta gente do que a já de si excepcional música.
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