Sábado, 30 de Junho de 2007
Linhas imaginárias, ficções políticas, fios enredados de audácia, avareza, ambição, traços de régua, devaneios humanos, caprichos da natureza. As fronteiras são símbolos de separação, de afastamento, de definição do eu e do outro, do nós e do eles. Representam o sentimento infantil de posse elevado ao expoente de milhares de quilómetros quadrados de terra delimitados por convenções geométricas do que é "meu". O ser humano atinge a auto-consciência do seu ego por volta dos 16 meses. O estado moderno atingiu igual patamar de desenvolvimento por alturas do tratado de Westfália em 1648. Já era altura de ter crescido um pouco e alguns esforços se vão fazendo, como a União Europeia, por exemplo. Mas a verdade é que continuamos todos maravilhados por fronteiras, por atravessá-las, por vê-las como as vemos nas páginas dos atlas, em sombreado cor-de-rosa, por sobre montanhas e vales, cruzando florestas e lagos, transformando o planeta num enorme puzzle de peças tão irregulares quanto fascinantes.
Eu, confesso, não sou excepção, nem expoente de maturidade neste portanto. Aquele que nunca passou uma noitada a jogar ao Risco que atire a primeira pedra. E se uma fronteira entre dois países pode ter muito interesse, uma tríplice-fronteira tem muito mais. Até agora, conheci dois desses locais.
Em Novembro de 2004, estive na ponta Noroeste da Jordânia, após visitar umas ruínas romanas próximas de Irbid. Entre colunas dóricas edificadas no cume de um promontório, avistava-se Israel e o Mar da Galileia, a poente, os Montes Golã, a norte, a Síria, a nascente. Impressionava a calma aparente daquilo tudo sob a luz fugitiva do crepúsculo. Mas com esforço conseguiamos adivinhar uma guarita militar síria, guardada, um pouco acima, pelos olhos brilhantes de uma cabra-montês. As edificações milenares feitas em pedaços atrás de mim pareciam proclamar a vã glória da guerra estúpida que se desenrola há décadas naqueles montes. Apeteceu-me gritar dali donde estava isso mesmo. Para o vazio, para o breu da noite que entretanto já caíra. Calei-me. Em alternativa, aproveitei o escuro para mandar ali mesmo uma grande mijada, pois já estava mesmo precisado.
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5082518633552605042" />Vem tudo isto a propósito da foto ao lado. Foi tirada o mês passado. Aí vemos o chamado “Encontro das Águas”. O Riu Iguaçu oferece o seu caudal ao grande Paraná, que vem vagaroso, ainda represado pela grande Barragem de Itaipú, uns quantos quilómetros a montante. Esta é (até à inauguração da Barragem das Três Gargantas na China) a maior represa hidroeléctrica do mundo. Mais para sul, após a junção do Rio Uruguai e ainda outros, estas águas formarão o enorme Rio da Prata, entre Buenos Aires e Montevideu.
Ora bem, voltando à foto: eu estou no Brasil, em frente está a Argentina e à direita, na outra margem do Paraná, está o Paraguai. A mata é densa em todas as partes. Estes são os cenários das loucas investidas dos jesuítas pela selva adentro para formar missões e converter tupis e guaranis. O rio que vem da esquerda é o Iguaçu e as suas águas são notoriamente mais vermelhas que as do Paraná pois deram há cerca de uma hora atrás o grande salto das Cataratas. Foram 70 metros de queda livre e na revolução que se seguiu, na erosão do solo ferruginoso, viraram aquele castanho vivo. O nível dos rios estava relativamente alto pois tinha chovido no dia anterior. Mas por vezes o caudal sobe de tal maneira que inunda completamente os andares inferiores da construção circular que se vê na foto. No último andar, em dias de Verão, costumam reunir-se os líderes governamentais do Mercosul para cerimónias oficias. Simbólico? Claro, como todas as fronteiras. Mas, enquanto tal, não conheci outras tão visíveis, tão materiais, tão bem delineadas quanto estas.
Acho assaz interessante como a bancada parlamentar do PCP, que tão veementemente exige agora o referendo para o novo tratado europeu, não achava de todo necessário apenas há uns meses um referendo sobre a questão do aborto. Consideram agora que o povo português tem legítimas dúvidas sobre o actual projecto de construção europeia mas estavam absolutamente seguros que o mesmo povo português não tinha quaisquer dúvidas sobre a IVG, ainda que esse povo houvesse votado maioritariamente contra em referendo anterior.
É claro que não é só o PCP. São todos. A começar pelo governo que primeiro referenda e depois diz que já não é necessário porque já não lhe convém.
Para quem, como eu, acredita a sério nos benefícios da democracia participativa, no fugir aos espartilhos partidários e aos seus afunilamentos de raciocínio, é triste ver como estes reduzem a instituição do referendo a conveniências de circunstância, oscilando entre a sua suprema importância ou total insignificância conforme sopra o vento. E nas águas agitadas da política portuguesa o vento tanto muda de direcção, quando a vaga vai alta, o barco mais entorna, o povo já enjoa. E se o grómito sair em forma de NÃO no boletim de voto, como em França ou na Holanda, depois espantem-se...
Quarta-feira, 27 de Junho de 2007
O Governo criou mais uma dessas "comissões do livro branco" para mudar as leis laborais. Esses senhores, que evitarei qualificar como bandidos porque sou uma pessoa de bem, propõem o seguinte:
- O subsídio de férias passa a ser calculado a partir do ordenado base, sem ter em conta subsídios como o de exclusividade e de funções, por exemplo.
- São alargadas as situações em que as empresas podem reduzir o salário dos empregados
- As férias são reduzidas de um máximo de 25 dias para 23 dias
- O horário de trabalho diário deixa de ter limites, passando a haver só limites mensais ou anuais
- As pausas de uma hora durante o horário de trabalho são reduzidas a meia hora
O nosso bondoso Governo diz tratar-se apenas de "uma base de trabalho". Bela base, digo eu. É por merdas destas que se fazem greves gerais. É por merdas destas que eu admito fazer greve geral, ao contrário desta última, que caiu dos céus aos trambolhões. Pensava eu que o Bagão já nos tinha fodido o suficiente. Afinal, nada como um bando de socialistas para nos foder ainda mais. Como sempre, a culpa da produtividade é exclusivamente do empregado, esse rico mal agradecido que desperdiça os bens da empresa.
Segunda-feira, 25 de Junho de 2007
O nosso querido Ministro das Obras Públicas prometeu construir cinco novas barragens nos próximos anos e a
EDP adorou a ideia.
Os rios em Portugal perdem caudal anualmente e existem fortes apoios da U.E. para exploração de energias alternativas abundantes em Portugal, mas o poder do cimento e as amizades antigas com as companhias monopolizadoras da energia em Portugal ainda é mais forte.
Para ajudar não há em Portugal ecologistas sérios e com tempo de antena para apontarem o dedo a tal decisão do ministro. As barragens são construções perigosas e ultrapassadas mas pelos vistos os governos P.S., repletos de engenheiros e empreiteiros gosta de apostar nestas coisas.
Agora é esperar que arqueólogos da oposição encontrem gravuras rupestres
nas margens dos rios em questão, rezar para que a comunicação social decida rever as barbaridades que o Alqueva provocou às populações locais e contabilizar as perdas a longo prazo que uma barragem representa para um país.
Quarta-feira, 20 de Junho de 2007
O mecenas sobre o Rui Costa:
"I feel sorry for him but fuck him"(leia-se com sotaque madeirense)
O próximo passo é incluir a estátua do Eusébio na colecção do CCB.
Como é bom não ser do Benfica...
Sexta-feira, 15 de Junho de 2007
Eu sei que a FIFA e a UEFA são grandes organizações, com processos de decisão extremamente morosos e complexos mas nada justifica que tenham levado quase 2 anos a agir em relação a uma situação de injustiça desportiva que eu tive aqui a oportunidade de
denunciar faz tempo.
Na verdade, embora compreenda a
decisão da FIFA , sinto uma certa tristeza pelo empregado de mesa cusqueño que, face às inevitáveis derrotas dos aversários que visitavam o estádio do Cienciano, exibia uma zombeteira alegria no rosto e terá doravante menos razões para sorrir. E, caramba!, aquelas gentes de lá de cima, daquela vida dura das montanhas, bem precisam de motivos que lhes amaciem o agressivo quotidiano.
Uma coisa é certa: eles não têm a culpa de terem nascido e vivido toda a vida lá nas alturas. Para ser exacto, a vantagem competitiva mantém-se também ao nível do mar. Um atleta andino ou alpino ou himalaio continua a ter mais moléculas de oxigénio no seu fluxo sanguíneo independentemente da altura em que corre, salta ou chuta uma bola. É doping? Não. É a vida. E, portanto, não se ponham a exagerar e a proibir a existência daquela acima dos 2.500 metros ou a proibir a entrada de desportistas que aí habitem em competições internacionais. É só para não se porem com ideias, ok? Mas, pronto, fazer-nos subir lá a cima (olha o pleonasmo lindo!) é que é chato...
No outro dia, (pronto, já foi há vários dias) o Tony de Inglaterra fez o seu discurso de despedida do lugar de primeiro ministro e acabou-o com a seguinte frase: "This is the greatest nation on Earth". É claro que o senhor é político e tem de espevitar o auto-bico nacional e essas merdas todas. Mas eu pergunto: quem, no seu perfeito juízo, se arriscaria a dizer semelhante coisa em Portugal?
Só outra pergunta: Como é que aconteceu esta coisa fabulosa de cada português se ter transformado num especialista na localização e construção de aeroportos?