Quarta-feira, 27 de Dezembro de 2006
Um Ex-voto no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Minas Gerais A arte popular brasileira, em toda a sua força, ingenuidade e detalhe.
P.S.: Todas estas imagens foram captadas através de um telemóvel daí a sua fraca resolução, qualidade e pertinência.
Um recorte do "Estado de Minas" para acalmar as hostes mais indignadas com os tradutores de filmes portugueses.
A saber, os tradutores brasileiros são bem piores e com mais historial: em 1960 e troc'ó passo passaram-se e passaram "The Sound of Music" para "A Noviça Rebelde".
Se Dante voltasse a nascer hoje, seria brasileiro e publicitário.
Garagem em Mariana, primeira capital e uma das vilas históricas de Minas Gerais
Não é talha dourada mas o fausto inútil e despropositado daquele lustre perfazem uma singular manifestação moderna do barroco mineiro.
Em São Paulo, num jantar muito bacana em casa de amigos, alguém que haviamos acabado de conhecer pergunta-nos:
"- Então, vocês são de onde em Portugal?
- Somos ambos de Lisboa.
- Sabe que eu tenho familia portuguesa?...
- Ah, sim?
- É que minha família é do Sul. De Santa Catarina. E lá tem uma grande comunidade de portugueses.
- Exacto. De Açorianos, não é?
- É isso aí! O meu avô era lá dos Açores.
- E de que ilha? Sabe?
- Olha, eu certeza não tenho mas penso que era da Ilha da Madeira..."
Retrato (desfocado) do Trabalho em Belo Horizonte, Brasil
Sexta-feira, 22 de Dezembro de 2006
Por acaso é no bairro Ipiranga mas ficaria bem melhor no bairro paulista de Higienópolis.
Quinta-feira, 21 de Dezembro de 2006
Rio de Janeiro - Aeroporto Internacional António Carlos Jobim
Esperando o voo doméstico para Belo Horizonte já muito atrasado, escuta-se ao lado um grupo de homens de negócios em regresso de um reunião de trabalho no Rio e que debate alguns problemas profissionais recentes e o sucesso das soluções encontradas:
"- 'Cê viu a atrapalhação do Joca contando as piadas de português dele?
- Vi, claro que vi. Agora com aqueles 2 portugueses lá da administração nas nossas reuniões o cara quer contar as piadas dele mas não sabe como.... Aí virou tudo piada de norueguês...
- É! Mas os norueguês se chama tudo António, Joaquim e Manuel, igualzinho..."
Sexta-feira, 15 de Dezembro de 2006
Há coisas que convém não ter como certas. Sempre entendi o perfeccionismo do Chico Buarque naquele trabalho de carpintaria chato de terminar uma música como o melhor que existe, e provavelmente é. E tinha como exemplo acabado desta prática o
Vai Passar, que alia um golpe de sorte/inspiração (é possível ouvi-lo - ao golpe -
aqui, para quem tenha Real Player) a muito, muito trabalho de acertar palavras, e acertar uma harmonia traiçoeira que impele a música sempre para cima. Depois de pedir ajuda a dezenas de compositores (mais que dez, pronto), a solução estava afinal em casa, e o Francis Hyme conseguiu um truque para trazer a música de volta à tónica. Mas para lá de todos estes pormenores, que na verdade nem são relevantes, está a música que tive sempre (e tenho) como o melhor samba de sempre.
De há umas semanas para cá achei que me fazia falta ouvir de chofre a obra toda da Elis Regina. Para lá de todas as maravilhas que contém, dou de caras enquanto guiava, com
O Bêbado e a Equilibrista (o tema aparece em tudo o que é compilação e best of, mas embirrei sempre com este nome e nunca lhe dei atenção). Por faccioso que sou escandalizo-me logo com o plágio descarado. Em alguns momentos é possível cantar o
Vai Passar por cima desta música, tal é a siamezice. Aproveito e insulto um pouco o João Bosco, autor da canção, e até o desculpabilizo um bocadinho, que imitar o Chico Buarque é apenas humano.
Só muito depois, dias depois, é que me assalta a dúvida. E se fosse o
Vai Passar que se tivesse colado ao
Bêbado e a Equilibrista? Uma pesquisa muito rápida e confirmam-se os maiores temores. A do Chico Buarque é de 84 e a da Elis Regina de 79. Teria havido punhais menos dolorosos, mas a verdade é que parte do génio do
Vai Passar estava já inventado. Demasiado inventado.
À distância e com parcialidade já consigo relativizar tudo, e continuar a achar o
Vai Passar melhor música e de uma perfeição assinalável. Quem já tentou fazer músicas sabe que haverá sempre alguém que diga 'epá isso lembra mesmo aquela música daquele outro'.
O Bêbado e a Equilibrista - Elis ReginaVai Passar - Chico Buarque
Quarta-feira, 13 de Dezembro de 2006
Alcântara é a musa deste blog, ou melhor dito, este blog nem existia sem Alcântara. Mas orgulho é ver que a terra do
'ex' por excelência - tem uma ex-tapada de caça, ex-fábrica da Regina, ex-FIL, ex-faculdade, ex-Hospitais Ultramarinos - teve sempre gente visionária, ainda que eventualmente por engano. Através do blog
jnpdi descobri um pedaço de crónica do Aquilino Ribeiro, em 1926, para o semanário
A Ilustração:
O jazz band costumava oferecer-se em espectáculo na feira de Alcântara, numa barraca de ripas e lona, miserável, rudimentar e cachaceiro. (...) Ninguém que se prezasse se dava ao desenfado de ir ouvir a música bárbara dos pretalhões e seus saracoteios obscenos. Não porque fosse interdita ao pudor; mas porque era apenas uma diversão sem graça nenhuma.É de registar que, apesar do juízo de valor, o Aquilino até parecia saber o que era o jazz. No tempo dele não sei, mas hoje uma barraca de ripas e lona, e um espectáculo cachaceiro (bonito...), com a música bárbara dos pretalhões não me parece nada mal. Aparentemente Lisboa não recebeu tão bem o jazz como Paris, mas fico com o consolo que a Romaria de Santo Amaro em Alcântara fez o que pôde.