Terça-feira, 28 de Novembro de 2006
Segunda-feira, 27 de Novembro de 2006
Em tempos idos, muito idos, a malta que por aqui posta andava envolvida em recuperaçoes e outras que tais. Enfim, nao posso adiantar muito ou estrago a surpresa do meu livro de memórias.
Nesse tempo tocavam-me, entre outras responsabilidades, reunir-me com polícias, ladroes, políticos (passe o pleonasmo e a piada fácil), reitores, associaçoes de estudantes, professores, funcionários, companheiros, o chico, quem viesse. Dos vários lados da barricada estavam Adriano Moreira, Mariano Gago ou o Reitor da Universidade Técnica de Lisboa Lopes da Silva.
Hoje vejo que no programa da
RTP Prós e Contras vai ser tema de discussao "O Futuro do Ensino Superior". Convidados? Adriano Moreira, Mariano Gago e Lopes da Silva.
Confesso-vos, levo todo o dia a pensar que significa, que imagem do país, que representa, o facto de que os que hoje discutem o futuro sejam o meu passado de há 10 anos. Eu e voces, os do blog, já passamos de dezenas de países, namoradas, empregos, casas, experimentaçoes alcoólicas e "eles" sao os mesmos. A sério, aceito interpretaçoes, metafísicas ou nao.
Sexta-feira, 24 de Novembro de 2006
Quando chega o Verão o país entra imediatamente em caos por causa dos incêndios, das temperaturas altas, dos engarrafamentos para as praias, dos hospitais que não têm resposta para a quantidade de idosos prestes a morrer de calor, da falta de água nas barragens que não é suficiente para os campos de golf e para as populações, etc.
Entretanto chega o Inverno, neste caso o Outono, cai uma chuvinha e pronto, temos país de pantanas outra vez.
Pouco mais de três semanas depois da principal linha ferroviária ser fechada de emergência por causa do mau tempo, volta a acontecer o mesmo, desta vez em várias partes do país. Por azar meu das duas vezes vejo-me no meio do caos. Na primeira vez foi um Domingo, dia da gente voltar ao trabalho, ao estudo, ou ao que for. Quando saímos de Coimbra no Inter-Cidades a abarrotar, avisaram os passageiros de que haveria um transbordo em Pombal que levaria as pessoas até ao Entroncamento para seguirem viagem até Lisboa. Nesse momento as pessoas que iam para Fátima e Caxarias, as duas maiores paragens entre Pombal e Entroncamento começaram logo a mandar vir. Chegámos a Pombal e a comédia começou. Os passageiros seguiram em fila tipo indiana pela saída dos deficientes e rapidamente o cenário se tornou caótico quando as da frente pararam por causa da chuva. Uma pequena multidão ficou ali parada tipo zombie à espera de ser salva. Subi pelas escadas e tentei falar com o Chefe da Estação, mas informaram-me que não tinha comparecido apesar de ter sido convocado. A única informação que me deram foi que haviam 4 ou 5 (variava conforme o funcionário) autocarros que estavam a fazer a viagem entre Pombal e Entroncamento e que demorava cerva de uma hora a fazer o trajecto por causa do trânsito e mau tempo. Fiz as contas depressa. Cada carruagem transporta cerca de 100 pessoas. Eram 3 carruagens de segunda classe e uma de primeira. Cada autocarro costuma ser de 52 lugares. Logo seriam precisas várias viagens para levar aquela gente toda, ainda mais porque estavam a chegar mais comboios do norte e a multidão aumentava.
Quando chegou o primeiro autocarro senti que estava no Ruanda e que tinha chegado um camião da UNESCO com cereais e arroz. Nem deixavam sair as pessoas que vinham dentro do autocarro. O próprio motorista do autocarro desapareceu e só o voltei a ver 20 minutos depois com uma sandes na mão. Nessa altura teve de expulsar todos os que tinham entrado para o autocarro mas já não tinham lugar sentado. Entre tirar malas e afins foram mais 20 minutos até esse autocarro sair. Depois chegaram os outros três e o cenário foi igual. Lá furei e me meti no último dessa leva e fui para o Entroncamento. Aí entrei no comboio que me indicaram e esperei mais umas duas horas pelos outros passageiros antes que partisse. Obviamente não havia lugares para todos e acabei por ceder a minha cadeira a quem precisava mais do que eu. Cheguei a Lisboa com 6 horas de atraso.
Desta vez foi mais divertido ainda. Apanhei um comboio para Coimbra ao meio-dia. Quando cheguei a Coimbra comprei logo o bilhete para o Porto, para onde ia partir quatro horas depois, de forma a chegar lá às sete, meia hora antes da reunião.
Quando às 17h45 vou para a estação a chuva tinha intensificado. Corri para o comboio das 18h que julguei o meu e só quando reparei que o número das carruagens não combinava é que descobri que aquele comboio era o que devia ter partido pelas 17h15. Alguém me informa que a linha do norte está cortada depois de Aveiro mas ainda ninguém anunciou soluções. Sigo para a sala do chefe da estação mas ele tinha saído às 18h. As informações também fecharam a essa hora. Entrei pela porta lateral das bilheteiras e exigi uma explicação. Disseram-me nada saber e apelaram à calma. Ao ver a minha reunião em perigo exigi o dinheiro do bilhete e corri para a Rede Expressos. Mais gente pensou no mesmo e nesse momento senti-me na Índia. Eram centenas de pessoas a tentar comprar bilhetes, aos gritos, com lágrimas, enfim uma desgraça.
Desisti. Liguei a desmarcar e combinei a reunião para o dia seguinte bem cedo.
Olhei para trás e vi aquela gente em desespero para chegar a casa e pensei na sorte que tenho. Afinal a chuva só me atrasou um dia de trabalho, podia ter sido muito pior. Afinal a C.P. é uma empresa que promete a tecnologia de ponta num futuro próximo mas não consegue manter as linhas centenárias a funcionar quando chove. Afinal a guerra civil no Iraque fez mais 160 mortos enquanto eu mandava vir com um funcionário da C.P. Afinal sou eu que penso que vivo num mundo civilizado. Alguém me dê um beliscão...
Há muitos méritos no Casino Royale. Mas o maior é voltar a ser inimitável. O Tom Cruise fez tudo para inventar um novo James Bond. Matou a equipa do excelente Missão Impossível e tentou inventar um super-herói solitário. Boa sorte para ele, esperávamos que assim pensassem os produtores dos James Bond, mas infelizmente não o fizeram. Ao longo dos filmes do Pierce Brosman, tivémos uma salganhada de tecnologia de ponta borrifada por um cheirinho, aqui e ali, da classe do 007.
Neste são colocados de uma vez por todas os pontos nos ii. A perseguição inicial, em Madagáscar, não diz senão isto: Se quisermos fazemos o vosso filme com uma perna às costas. O resto do filme, e sobretudo as cenas do casino dizem: Nem em cem anos vocês conseguem fazer um James Bond.
O Pierce Brosman teve tudo para ser um dos melhores Bonds de sempre, e o melhor desta nova época. Ficará esquecido, temo bem. Ao contrário do desgraçado do George Lazenby, que teve um grande filme e foi um péssimo Bond, o Brosman teve péssimos filmes e até foi um bom 007. Ambos tiveram no entanto a horrível arrogância de não gostar do personagem. É chato para eles, mas não serão mais do que sucedâneos do James Bond. Terão no entanto sempre a consolação de ter existido o Timothy Dalton.
Do video que vi
aqui (vejam lá tudo, vá):
The James Bond Theme is the signature, is the musical sound of Bond from day one. A Bond film without that theme is unthinkable.Este Casino Royale quase não tem o James Bond Theme. Curiosamente, sendo o filme aclamado como o que trouxe o 007 às suas origens, é o que tem menos clichés. Clichés criados pelos próprios filmes, diga-se. Há uma série enorme de turn-offs ao longo de todo o filme. Bond pega no Aston Martin para dar uma volta a uma rotunda. Depois pega no Aston Martin para finalmente sair em perseguição, mas não chega a concretizá-la e atira o carro borda fora. O momento de tortura é tão arcaico quanto doloroso. Mas logo a seguir entra o melhor momento de humor do filme, ainda durante a tortura. Este James Bond foge dos clichés como da cruz e no entanto transpira o ambiente Bond - que não existia há mais de 20 anos - por todos os lados. O James Bond Theme quase não aparecia. Os gajos puxaram a corda neste filme, e fizeram-no muito bem. Lamento por quem não gosta do 007, mas terão que levar connosco pelo menos mais 20 anos.
- Shaken or stirred?
- Do I look like I give a damn?
Quinta-feira, 23 de Novembro de 2006
No outro dia, o secretário de Estado José Magalhães, autor de um dos primeiros manuais sobre a Internet em Portugal saiu-se com um pensamento original. Diz o senhor que a emergência das companhias aéreas "low cost" está a facilitar o tráfico de seres humanos. É uma verdade indesmentível. Mas o que o senhor secretário de Estado não disse é que a popularização do automóvel facilitou os assaltos a bancos, ou que o comboio estimula a circulação internacional de bandidos. E há mesmo quem ache que a electricidade nasceu para abastecer os traficantes de droga e os seus laboratórios e quem afiance que, sem água canalizada, os falsificadores de vinho teriam uma vida muito mais difícil. Isto para não falar no impulso que o telemóvel veio trazer à indústria do rapto. Tudo isto são temas que deviam ser estudados, caso contrário, é um escândalo.