Não é incomum ver o Comboio Azul, adepto com carácter de exclusividade, da Académica de Coimbra, gozar connosco, pobres torcedores de equipas que fazem capa de jornal e que nem golos podem sofrer jornada a jornada. Goza connosco do alto (ou do baixo, em rigor) do conforto da sua pequena equipa, histórica mas modesta, que não faz mais do que é obrigada, que comemora as permanências, sabe o que é uma subida de divisão, sonha cautelosamente com um dia na UEFA ou na final da Taça.
Agora finalmente, e graças ao Nuno Miguel Guedes, venho a descobrir o que se ouve nas bancadas em Coimbra por estes dias. Será, como no caso do Benfica, um bem esgalhado ragtime de Scott Joplin do século XIX? Não é bem. Mas louve-se a actualidade e a intenção de atrair jovens para a causa academista.
Está na moda ser-se liberal. Urge bater no Estado, espezinhá-lo, implodi-lo. Reforma é coisa a tratar pela banca e pelos seguros, privatize-se hoje, já! Subsídio de desemprego é financiar malandros. Catorze meses de ordenado constitui uma aberração incomportável. Hospitais de acesso gratuito só pode ser ideia de um palhaço sem nome. Educação é para quem a pague. Estradas sem pagar, só se não tiverem alcatrão. Rendimento mínimo garantido ou outros eufemismos é para encher o bandulho a parasitas. Contrato colectivo foi ideia de comunas exacerbados. Multibanco sem taxas, nem me falem nisso. Nem em habitação social para os miseráveis ou limitações aos contratos a recibos verdes. Para que é que serve o ordenado mínimo? Ou o passe social? O progresso não se compadece com estas merdas. Entregue-se o país às mentes brilhantes. E afiem-se as facas para a selva que se avizinha.
Reparem bem na habilidade de fazer contra-perguntas (por ora vamos admitir que a expressão existe e não nos vamos desviar do essencial). Sobretudo quando diz "outro assunto", quase aplaudo. Que vá havendo quem tão bem o encoste às cordas, agora que regressa.
Por outro lado, dou por mim a concordar com pessoas como o Henrique Raposo, coisa que me apoquenta (é que arrepia como concordo absolutamente com isto), vos garanto, ou a ficar satisfeito pelo regresso do De, mas felizmente a achar algo ridícula a instrumentalização por parte do PPM de um chorinho muito mais inocente do que ele pensa, do Chico Buarque. Lamento mas não é de todo de ir por aí. Até porque ao instrumentalizar, um gajo corre o risco de se esquecer do maior momento de génio de toda a letra, que é fazer rimar o nome da mulher (a que manda um beijo para os seus) com "a coisa aqui tá preta". O essencial. Fiquemo-nos pelo essencial, se faz favor.
Richard Cheese e os Lounge Against the Machine começaram em 2000 a tocar pelos Estados Unidos. Passaram quatro anos e vieram até à Europa para apresentarem ao público Londrino e Portuense a sua arte. Especializados em converterem músicas comuns às playlistas mundiais em temas jazz "ligeiro" típico de Hotel de 3 estrelas ou Casino tipo Funchal, os três músicos e o comediante Mark Jonathan Davis, têm participado em diversos programas de televisão e até já viram uma música sua usada num filme.
O pseudónimo Richard Cheese é também um nome bem escolhido a dedo já que Richard tem como alcunha Dick e Cheese refere-se à esmesma, a nhanha que se forma à volta da glande das pichas mal lavadas. Para que conheçam melhor estes grandes artistas, ficam alguns links e informações.
Composição: * Richard Cheese: vocals * Gordon Brie: double bass * Buddy Gouda/Frank Feta: drums * Bobby Ricotta: keyboards
Além do Bachelorette, o Michel Gondry destacou-se, por exemplo, num dos vídeos que melhor consegue captar a essência dos Radiohead. É importante referir que eles devem ser os gajos que mais a dedo escolhem os criativos e os realizadores dos seus videoclips, visto que não me lembro de um, nem unzinho que seja, que não seja completamente avassalador, portanto não é coisa pouca ser dele o melhor.
Não, apesar da câmara impressionante no Street Spirit, da história pungente contada no Paranoid Android, da curta-metragem impressionante que é o Karma Police, do arrojo do plano único no No Surprises ou da alta tecnologia usada no Pyramid Song ou no There There, é mesmo o vídeo de Knives Out, realizado como se fosse um único plano-sequência (ainda tenho que investigar para ver se é verdade) que melhor define aquilo que é a sua música: a angústia, a paranóia, o desespero, a irrealidade própria de um pesadelo. Com o toque de bizarria que vai definindo o trabalho de Gondry:
Lê-se no DN: "(...)Este é o resultado das investigações em volta do caso denominado Envelope 9 que ontem chegaram ao fim. O anúncio foi feito pela Procuradoria-geral da República (PGR) em comunicado, informando também que foi ilibado o funcionário da PT-Telecomunicações envolvido, assim como "não foram recolhidos indícios da prática de crime ou de qualquer responsabilidade disciplinar imputável a magistrado, oficial de justiça ou funcionário da Polícia Judiciária". Só os profissionais da comunicação foram notificados para julgamento. No banco dos arguidos vão sentar-se Joaquim Oliveira, do quadro do 24 Horas, e Jorge Van Krieken, "free-lancer"."
O dia em que Souto Moura deixar a Procuradoria é um dia feliz para todos nós. Depois de ter falhado a promessa que fez a Sampaio de esclarecer o caso do envelope 9 o mais rapidamente possível, o senhor resolve pôr dois jornalistas no banco dos réus na véspera de se ir embora. Para esse cavalheiro, o grave não é o facto de terem ido parar ao processo Casa Pia centenas de números de telefone de altas figuras do Estado. O que realmente o incomoda é o facto de dois jornalistas terem publicado esse facto. Não sou corporativista, mas, neste caso, só posso estar com os dois arguidos. Frouxo Moura é mau demais para ser verdade. Que vá em paz e para bem longe.
O Spike Jonze, antes de se ter tornado um cineasta da moda, realizou vários videoclips da moda, como já aqui foi referido. Muitos e bons, inovadores, como terei - espero - ocasião de aqui partilhar. Entretanto lembrei-me de mais um cineasta da moda que começou como realizador de videoclips da moda, que marcaram definitivamente a minha formação, se bem que na altura não fazia a mais pálida ideia de quem eram as almas por trás do famoso processo criativo. A bem dizer, nem sequer interessava muito. Na altura, bastava bem o trabalho de ter de aprender os nomes das bandas ou artistas a solo, das músicas, eventualmente dos álbuns e ainda, lá está, a história que os videoclips contavam ou, em alternativa, pelo menos os planos que enchiam mais o olho.
Lá para 97, talvez a derradeira altura em que a MTV ainda se via (ainda que vagamente - o Alternative Nation, alguns clips pela madrugada), lembro-me perfeitamente de ter surgido o, se não estou em erro, segundo single do Post da Björk, que já na altura era uma paixão arrebatadora que me enchia o peito. Lembro-me ainda do espanto com que vi o clip do Bachelorette pela primeira vez, da obsessão de ir memorizando o vídeo a cada passagem, e ainda do enorme gozo que me dava saber que este iria acabar por passar durante as madrugadas em que ainda tinha o hábito de ouvir a televisão. Não me lembro, como é óbvio, como em todas as paixões, da altura em que ela passou, em que deixou de ser importante, em que se tornou apenas num hábito que se mantém.
A única certeza que tenho é que, passados muitos anos, voltei a ter um gozo enorme a ver o clip, a segui-lo atentamente, a descodificar a mensagem de Michel Gondry (o gajo do Eternal Sunshine of the Spotless Mind, pois claro! Estes dons não caem do céu!). Agora tudo faz sentido. Sobretudo a excentricidade bem marcada, a crescente sensação de ansiedade e a pontinha de melancolia que deixa no final. Um vídeo brilhante para uma música não menos brilhante: